domingo, 25 de maio de 2014

Os Jardins

Naquela rua nada havia de flores, os jardins só eram feitos de grama simples que volta e meia era cortada, mas que vivia desgranhada. Certo dia, uma moça sem muito esmero, sentiu-se só e entristecida. Então, buscou companhia em uma pá e encheu as unhas de terra.
Não podia fazer nada sofisticado, havia apenas um meio quadrado de grama em seu jardim. Mas o encheu com gérberas coloridas e algumas margaridas que logo fizeram companhia à uma ainda pequenina árvore primavera, de folhas bem verdes e flores em tom de rosa avermelhado.
Ao alto da casa, logo se pode ver as alamandas roxas caindo do canteiro, vislumbrando a pequena árvore na entrada e as rosas em um quase invisível canteiro. Nada havia de mais, mas fora feito com tanto amor e regados com toda a esperança de que um dia tudo iria despontar e florescer.
E foi assim que aconteceu, eram regadas todos os dias e com toda a preocupação que se podia ter, logo se pode ver o primeiro jardim da rua. E nem os cachorros tentavam ruir aquele pequeno espaço de chão que ganhou cores em um breve tempo de dedicação.
Certo dia, não muito longe, um vizinho também resolveu plantar, e em seguida outro e outro. Mas ninguém se falava, ninguém se via. Os jardins conversavam sozinhos. Um deles  ficou robusto, tão cheio de coisas que parecia querer falar alto. Outro, nem tanto, mas ainda assim lotado de pétalas de flor. E então, a rua estava toda colorida. Quem é que poderia imaginar que algum dia aquela rua ganharia vida?!
Mas aquele jardim, daquela menina que fora o primeiro, ainda era de se indagar. Como podia simplicidade aquela, ainda assim chamar toda atenção. E logo todos começaram a se conhecer para descobrir que é que se punha naquele jardim para ficar assim.
Em uma certa noite, fria e cinza, sem luar e sem estrelas, o amor se foi, os sonhos também. O coração ficou vazio e a alma também. O jardim já não era mais regado, as flores secaram e já não havia alguém. A moça foi embora e deixou o jardim na mão de quem pudesse seu coração encontrar, na esperança de que alguém que não só ela o pudesse regar e cuidar. O jardim ainda esta lá, com as árvores desfloridas e com as plantas secas, como o amor de alguém que não fora regado e cultivado como se deve.
Mas nem tudo ficou ruim, afinal, a rua toda ainda esta colorida, só falta o toque de vida que só a menina tem.

Ninna Valentini